O café brasileiro, especialmente os grãos produzidos na região das “Matas de Rondônia”, vive um momento bastante especial. Nesta semana, especialistas de diversos estados do Brasil e até mesmo de outros países estão reunidos na cidade de Cacoal (RO) para o 1º Encontro Brasileiro de Degustadores de Café. O encontro acontece no Cacoal Selva Park Hotel, mas inclui visitas a algumas propriedades e até mesmo aldeias indígenas que tem na cafeicultura a principal atividade econômica.
A ideia de realizar este primeiro encontro surgiu em outro evento voltado ao café, realizado em São Paulo. Em uma roda de sabor dos canéforas do Brasil, representantes da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, do IFES – Instituto Federal do Espírito Santo e da Caferon – Associação dos Produtores de Café de Rondônia, tiveram a ideia e logo começaram a mobilizar toda a estrutura e logística para que o 1º Encontro Brasileiro de Degustadores de Café realmente acontecesse.
“Assim que o Enrique Alves (Embrapa) levantou a ideia, na hora eu já falei: vamos levar para Rondônia! Coloquei toda a estrutura do Cacoal Selva Park à disposição, era pra ser um evento muito importante e a gente sentiu isso de momento”, conta o presidente da Caferon, Juan Travain, cuja a família é proprietária do hotel de selva que agora sedia este primeiro evento.
“O bacana deste encontro é que veio a ciência brasileira, que trabalha com café. Os principais players do mercado estão aqui. Nós estamos muito contentes, com a sensação de dever cumprido. É algo que vai ficar para história! Aqui realizamos, por exemplo, o maior cupping do mundo. Não há relato de outro cupping realizado com 1.300 xícaras sendo provadas simultaneamente”, comemora Juan Travain.
Para aqueles que não estão muito inteirados deste universo, o termo “cupping”, citado pelo presidente da Caferon, se refere a um processo fundamental na cadeia do café. É neste momento que os grãos são provado, para a pontuação e qualificação da bebida. O cupping é realizado por profissionais especialmente capacitados e há muito rigor na avaliação. Afinal, a pontuação alcançada por um café durante o cupping implica diretamente no reconhecimento e no valor que o produto terá no mercado.
Considerado por muitos participantes do evento como o “papa do café”, Edgard Bressanni garantiu à equipe de Tribuna Popular que foi o primeiro a se inscrever nesta primeira edição do Encontro Brasileiro de Degustadores de Café. Para ele, a ideia deste evento foi espetacular e ele sequer cogitou ficar de fora.
“Este é o primeiro de muitos e servirá como exemplo para outros estados também organizarem encontros como este. Em 2023, deve acontecer no Espírito Santos, mas depois de um trabalho como este que acompanhamos aqui, acho muito difícil bater toda a simpatia, a hospitalidade e a seleção de palestras que aconteceram aqui. A gente tem um casamento de tanta gente especial, tanta gente com muito conhecimento e todas as diferentes frentes de produção. E o mais importante, a gente teve a participação também dos produtores rurais! Não foram só especialistas que estão no fim da cadeia do café, mas também aqueles que produzem”, reconheceu.
Edgard Bressani é um Cafeólogo certificado pelo Coffee Consulate, de Mannheim, na Alemanha e o fundador da exportadora Coffee Soul Brasil Ltda., detentora da marca Latitudes Brazilian Origins Coffees. De acordo com ele, o café das Matas de Rondônia tem roubado a cena por onde passa. “O Robusta Amazônico é um café muito exótico! Tem notas maravilhosas, notas de especiarias, de chocolate, de frutas maduras, de frutas vermelhas. Eu provei um café que tinha notas de uva! É algo muito especial, então a avaliação tem sido sempre a mais positiva”, conta.
Através da sua empresa, Bressani leva para diversos países os cafés mais especiais produzidos no Brasil e nos últimos dois anos, graças principalmene à qualidade do café rondoniense, o cafeólogo tem ajudado também a disseminar os Robustas Amazônicos pelo mundo.
“Eu realizo cuppings e no ano passado eu realizei uma sessão de cupping no Museu do Café de Dudai. O Robusta Amazônico foi a grande vedete! Acho que ele roubou a cena de todos os outros cafés que estavam na mesa, por ser muito exótico, muito diferente. E é isso o que eu procuro no meu trabalho, sempre cafés de altíssima qualidade, acima de 80 pontos. Nessa oportunidade eram cafés de 87 e 88 pontos que estavam na mesa junto com outros cafés arábicas e as pessoas ficaram encantadas por ele ser diferente”, explica.
É por suas caraterísticas exóticas, mas principalmente pela qualidade da bebida, que os cafés cultivados nas Matas de Rondônia tem atravessado fronteiras. “Eu já vendi cafés Robusta para Dubai, para o Qatar e a minha missão agora é levar para todos os meus clientes que estão em 34 países”, garante Bressani.
Da semente à xícara
Durante os cinco dias do 1º Encontro Brasileiro de Degustadores de Café, os especialistas participam de mesas redondas, palestras e oficinas, debatendo desde a arte da produção de cafés de qualidade aos protocolos de degustação. Mas as visitas às lavouras cafeeiras em terras indígenas e em pequenas propriedades familiares trouxe um verdadeiro diferencial ao encontro realizado em Rondônia.
Uma dessas visitas aconteceu logo no início do evento, à propriedade da Família Bento, no Sítio Rio Limão, localizado na Linha 10, na área rural de Cacoal. Lá eles conheceram um pouco mais a história e todas as etapas por trás da produção do Café Don Bento, um dos Robustas mais premiados de Rondônia.