Ao mesmo tempo em que o governo brasileiro afirma esperar a divulgação das atas das eleições na Venezuela, interlocutores no Itamaraty avaliam que a publicação pode não ser suficiente para se reconhecer a vitória ou a derrota de Nicolás Maduro.
Maduro pediu para que Suprema Corte do país audite as eleições, mas a saída do Centro Carter foi vista com preocupação por diplomatas porque deixa um vácuo de possibilidade de auditoria confiável. A entidade é vista como uma das instituições mais independentes no fornecimento de análises sobre os resultados.
Nesta terça (30), o Centro Carter cancelou a divulgação de um relatório preliminar e alertou sobre a retirada de funcionários da Venezuela. Em um comunicado divulgado no início desta quarta-feira (31), a organização pró-democracia fundada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, afirmou que as eleições na Venezuela não podem ser consideradas democráticas.
Com isso, o Brasil deve seguir no “modo cautela” ditado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e segurar um reconhecimento do resultado por tempo indeterminado, a depender também do termômetro dos acontecimentos no país vizinho. Uma das principais preocupações é com o aumento da violência urbana em território venezuelano.
A avaliação interna é de que o país não deve tomar partido sem ter os fatos esclarecidos. O Itamaraty está no limite da ingerência sobre as eleições e concentra pressões para que a Venezuela dê uma satisfação, afirmam reservadamente diplomatas ouvidos pela CNN.
Ao mesmo tempo, o governo se volta para as reações americanas. A saída de cena do Centro Carter é vista como um movimento para que os Estados Unidos sejam mais duros com o regime do Maduro.
O Brasil celebra como reforço na parceria de confiança o fato de ter sido consultado sobre o assunto em diversas esferas, chegando à mais alta delas no contato telefônico entre o presidente dos EUA Joe Biden e o presidente Lula.
A própria oposição venezuelana põe o Brasil no rol de países que questionam o processo ao exigirem mais informações.
“Agradecemos à ONU, à OEA, à União Europeia, aos Estados Unidos, ao Brasil, à Colômbia, ao Chile, ao México, à Argentina, à Espanha, à Itália, a Portugal, ao Peru, à Costa Rica, a El Salvador, ao Uruguai, ao Panamá, à Guatemala, à República Dominicana e ao Paraguai, por solicitarem o respeito à vontade dos venezuelanos expressa em 28 de julho, exigindo a publicação por tabelas dos registros de votação pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), conforme expresso em nosso sistema jurídico e na declaração emitida pelo Carter Center, um observador internacional convidado pelo CNE”, escreveu Edmundo González em uma postagem no X.