Trocas na janela partidária tracionam projeto presidencial de formar uma corrente de palanques fortes nas duas regiões, que têm 55% do eleitorado. Estratégia é equilibrar o jogo e compensar dificuldades, como a conquista do voto nordestino
O presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu maior do que entrou da janela para troca de partidos, encerrada na última sexta-feira. Isso porque o resultado foi o aumento das bancadas das legendas que o apoiam, tanto no Congresso quanto nos estados. Dessa forma, ganha tração uma das estratégias mais importantes para o projeto da reeleição: a construção de palanques fortes nas regiões Sul e Sudeste. Na primeira, o peso do bolsonarismo é grande, mas, na segunda, nem tanto. É sobretudo nelas que o presidente pretende compensar algumas dificuldades, como, por exemplo, a de tirar votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste — onde o PT desfruta de ampla vantagem.
Sérgio Praça, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que o presidente tem procurado estreitar as pontes lançando candidatos não apenas para abrir caminho para a campanha, mas, também, defendê-lo nos debates. “Nessa eleição, Bolsonaro vai ser uma figura central nos pleitos estaduais por ser polêmico, determinar em grande medida a agenda pública sobre o que as pessoas conversam. Ele tem procurado ter candidatos que o defendam em todos os estados, mas no Sul e no Sudeste é mais bem avaliado. Assim, aproveita os momentos de pico de popularidade para ir para onde é menos querido”, aponta.
Já o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisa que o plano de Bolsonaro passa por apostar em locais onde já possui relevância. “No Sul e no Sudeste, onde tem grande aceitação, quer se consolidar. Essas pontes mais ao sul são uma tentativa de se reafirmar na construção de palanques com o percentual que o levaria para o segundo turno”, ressalta.
Para o também cientista político André Rosa, ao reforçar os laços no Sul e no Sudeste, Bolsonaro tenta manter a hegemonia. “Mas o principal foco dele nisso é pela estratégia de Lula de trazer Alckmin para vice. Isso significa uma grande perda de votos para o presidente, se comparado com 2018. Não é uma estratégia de captura de votos, mas de sobrevivência, para não perder a base que já tinha”, avalia. (Fonte: Correio Braziliense).