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Refugiados afegãos se aglomeram em Guarulhos em busca de assistência

O Afeganistão vive em guerra desde o fim do ano passado, quando o grupo armado Taleban retomou o controle do país.

Agência Estado
(crédito: AFP)

Um grupo com cerca de 150 refugiados afegãos, entre homens que viajaram sozinhos e famílias com crianças pequenas, ocupa um saguão no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. Distribuídos em um espaço aberto entre um posto de atendimento a migrantes e uma agência bancária, eles dizem acampar por lá porque, mesmo tendo o visto regularizado, não há para onde ir.

O Afeganistão vive em guerra desde o fim do ano passado, quando o grupo armado Taleban retomou o controle do país. O Brasil, então, passou a oferecer um visto humanitário para receber refugiados, encaminhando aqueles que não tinham recursos para centros de acolhimento. Com o tempo, porém, as vagas nesses espaços tornaram-se insuficientes.

TALEBAN

Há cinco dias dormindo no aeroporto, o afegão NoorRahman Naeimi, de 35 anos, trabalhou no Exército do Afeganistão por cerca de 20 anos. Fez duas graduações, de Engenharia Civil e Mecânica, e tinha uma boa perspectiva para o futuro. Depois que o Taleban assumiu o poder, há cerca de ano, essa realidade foi se apagando aos poucos. “Nos primeiros dois, três meses, não houve problema para ninguém”, conta. “Mas depois um amigo próximo do meu pai sumiu”, continua ele, que diz que o pai também era militar.

No escuro, Naeimi conta que começou a falar por celular com um amigo que já estava no Brasil e procurou ajuda qualificada para correr atrás do visto humanitário. Com a documentação encaminhada, foi ao Irã com o pai, de 61 anos, e com o irmão, de 23, para fazer os procedimentos finais.

Depois do aval, eles compraram passagens com um dinheiro que tinham juntado e voaram para o Brasil mesmo sem recurso extra. A esperança, agora, é ajeitar a vida por aqui. “Não tínhamos dinheiro para trazer o resto da família, mas vamos tentar encontrar um bom emprego aqui para trazê-los”, disse ele, que é pai de seis filhos, três meninos e três meninas. O afegão diz que se vê morando em São Paulo. “Ainda não fui do lado de fora do aeroporto, mas, aqui dentro todos se mostram boas pessoas e nos ajudam de alguma forma. Alguns trazem comida, outros até barras de chocolate”, afirma.

Apesar das dificuldades, Naeimi se mostra positivo quanto a uma nova vida. “Nós não temos muitos cobertores, colchões… É uma situação muito ruim aqui, mas o que posso fazer? Mesmo com essa situação, depois disso eu vou agradecer ao governo brasileiro por nos dar uma chance de vir para cá e salvar nossas vidas.”

A reportagem passou o início da tarde de ontem no local. Por lá, encontrou um cenário de desolação entre homens, que são maioria no local, e famílias sem ter para onde ir. Ainda assim, o grau de cooperação entre os presentes, sobretudo para quebrar barreiras da língua, chama a atenção.

Como o espaço é amplo, dezenas de crianças afegãs correm e brincam pelo local durante o dia, enquanto os adultos se reúnem nas cadeiras do saguão para fazer orações, usar os celulares para mandar atualizações para as famílias e para conversar sobre como os dias têm sido. Também agradecem a todo momento os voluntários que atuam no local.

Uma delas é a ativista Swany Zenobini, de 29 anos, que relembra que a ocupação por parte dos afegãos começou a ganhar força no fim de agosto. “Todo dia chega refugiado afegão e todo dia não tem vaga, não tem espaço de acolhimento”, afirma ela, que integra o coletivo Frente Afegã. “Já presenciei um senhor de 103 anos dormindo no chão, mulher grávida já em trabalho de parto dormindo no chão? Agora tem até neném de 6 meses aqui.”

Entre as hipóteses para a alta repentina, Swany acredita que, quando o visto humanitário foi emitido, em setembro do ano passado, houve um ano para que os afegãos de classe média levantassem recursos para comprar passagem área.

Agora, a chegada de novos refugiados é tamanha que, segundo a ativista, os grupos se renovam frequentemente. “Esse grupo tem gente que está aqui há quase dez dias. Aí eles são acolhidos, todo dia se renova.”

APOIO

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da capital informou que 93 afegãos que estavam no aeroporto foram encaminhados ao Centro de Acolhida Especial (CAE) da Penha, aberto exclusivamente para abrigar esse grupo de refugiados. Conforme o secretário de Desenvolvimento e Assistência Social de Guarulhos, Fábio Cavalcante, o aumento da demanda de refugiados por ajuda ocorreu principalmente a partir de abril. “A gente teve 180 pessoas (atendidas) em julho, 200 em agosto e, agora, 250 em outubro, que é o ápice”, afirma. “A gente garante a segurança alimentar com café da manhã, almoço e jantar, distribui cobertor e kit higiene.”

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, disse acompanhar a ação para acolhimento das famílias.

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