A vacina, produzida a partir da tecnologia de mRNA, a mesma empregada para a Covid, induziu resposta imune de células de defesa responsáveis por buscar e atacar o tumor pancreático por um período de até três anos após a imunização
Uma candidata à vacina para câncer de pâncreas apresentou bons resultados na primeira fase de teste em humanos nos Estados Unidos, segundo divulgaram os pesquisadores neste domingo (7).
A vacina, produzida a partir da tecnologia de mRNA, a mesma empregada para a Covid, induziu resposta imune de células de defesa responsáveis por buscar e atacar o tumor pancreático por um período de até três anos após a imunização.
Os dados do ensaio clínico de fase 1 conduzido no Centro de Câncer Sloan Kettering Memorial, em Nova York, foram apresentados durante o encontro anual da Associação Americana para Pesquisa em Câncer, em San Diego (Califórnia).
No estudo, foram incluídos 16 pacientes com adenocarcinoma do ducto pancreático, um tipo agressivo de tumor do pâncreas, que já haviam sido analisados com 1,5 ano de acompanhamento pós-vacina.
A vacina foi feita pela BioNTech, a mesma empresa que desenvolveu a vacina contra a Covid, utilizando o RNA mensageiro com informações retiradas dos tumores dos participantes. Essas informações apontam para o sistema imune o alvo para ataque.
Funciona assim: o RNA mensageiro é uma molécula composta por uma sequência do código genético que traduz uma proteína, a ser produzida no nosso organismo. Essa proteína contém a fórmula de uma proteína do invasor, no caso, moléculas encontradas na superfície de vírus, bactérias ou tumores, conhecidas como antígenos.
Os cientistas pegaram essa informação dos tumores pancreáticos individuais de cada paciente e desenvolveram um chamado neoantígeno –contendo apenas a informação necessária para as células de defesa reconhecerem aquele corpo estranho e atacá-lo. Cada vacina foi feita de forma personalizada para, em contato com o organismo, os anticorpos identificarem o antígeno verdadeiro, ou seja, o tumor.
Inicialmente, a resposta imune teve sucesso em metade deles, ou seja, em oito pacientes. Nos demais, houve recidiva do câncer em cerca de 13 meses. Naqueles imunizados, as células de defesa impediram o crescimento de células cancerígenas por 18 meses.
Na nova análise, realizada três anos depois, os dados apontaram que 98% das células de defesa capazes de reconhecer e atacar o tumor foram produzidas após a vacinação, o que indica o sucesso do imunizante em estimular uma resposta imunológica duradoura.
Além disso, em 6 dos 8 pacientes imunizados, foram encontradas células de defesa do tipo linfócito T CD8+, responsáveis por atacar as células cancerígenas, além de interferons. Estes últimos são proteínas liberadas pelos linfócitos que sinalizam para outras células de defesa o corpo estranho e ajudam a combatê-lo.
A resposta imune ajudou a impedir a chamada remissão do tumor, que pode acontecer em pacientes em tratamento por um período de até cinco anos, dizem os autores.