Presidente enfatiza protagonismo da região Amazônica nas discussões globais em torno da agenda ambiental e aponta a necessidade de suporte a quem vive e respeita o bioma

Presidente Lula põe a mão na massa na produção de farinha de mandioca às margens do Tapajós (PA): sustentabilidade e geração de renda para os povos que protegem a biodiversidade. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Na sequência da agenda de eventos que antecedem a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou neste domingo, 2 de novembro, a Comunidade Jamaraquá, uma das 26 comunidades da Floresta Nacional do Tapajós, no Pará. Mais cedo, Lula visitou a Aldeia Vista Alegre do Capixauã (PA), onde escutou reivindicações e anunciou a ampliação de acesso a programas federais. No sábado (1/11), acompanhou a inauguração do Porto de Outeiro e do Aeroporto Internacional de Belém.
A Comunidade Jamaraquá tem como destaque o turismo de desenvolvimento sustentável e de base comunitária, assim como a produção de óleos de andiroba e de copaíba, látex e biojoias. Estruturada para o ecoturismo, conjuga a geração de renda familiar com a preservação da floresta. O Fundo Amazônia, criado pelo Governo do Brasil e administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apoia a comunidade.
O presidente acompanhou o processo da extração do látex e da fabricação da borracha, colocou a mão na massa na produção de farinha de mandioca e conversou com moradores. No bate-papo, defendeu que a escolha de um estado amazônico como o Pará para sediar a COP30 é a chance para que líderes mundiais atuantes na defesa da preservação da Amazônia conheçam o bioma e a realidade dos povos locais.
“A COP30 é um momento único na história do Brasil. É um momento em que a gente está obrigando o mundo a olhar a Amazônia com os olhos que devem olhar. O mundo vai conhecer não apenas a Amazônia, mas vai conhecer o povo maravilhoso e extraordinário da Amazônia e que merece ajuda”, argumentou.
DE PÉ E COM SUPORTE – Segundo Lula, não é só o mundo pedir para manter a floresta em pé, mas reconhecer que é necessário financiar e dar suporte a quem atua com essa finalidade. “Para a floresta ficar em pé, temos que dar sustentação econômica, educacional, de saúde para as pessoas que tomam conta. Se as pessoas não tiverem o que comer, não vão tomar conta de nada. Essa é a nossa obrigação”, argumentou o presidente Lula.
APRENDIZADO – Ele afirmou estar visitando as localidades paraenses também para aprender mais sobre a região. “A ideia é fazer um levantamento da real situação, porque, de Brasília, é difícil a gente enxergar, a tantos milhares de quilômetros, as pessoas que moram aqui, um lugar maravilhoso que tenho certeza de que muita gente que mora em Copacabana [Rio de Janeiro], que mora nas praias mais bonitas do país, teria inveja se conhecesse o que é morar à margem do Rio Tapajós, com essa água maravilhosa. Então, eu queria vir pra aprender”, declarou durante a conversa com os indígenas.
ESCUTA — A ocasião também cumpre o propósito de ouvir demandas e estabelecer o compromisso de ampliar iniciativas que atendam as necessidades da população local. “Vocês não estão reivindicando absolutamente nada que não seja possível resolver. Melhorar a questão da saúde, da educação, dos títulos de terras é nossa obrigação. O que precisamos é trabalhar mais para que a gente vença a burocracia.
O Sr. Dido e a ministra Marina Silva mostram ao presidente Lula o processo de extração do látex. Foto: Ricardo Stuckert /PR
QUALIDADE – O presidente também manifestou preocupação com a qualidade do ensino dos jovens na região e assumiu o compromisso de promover e ampliar políticas educacionais para crianças e adolescentes indígenas. “Os meninos terminam o ensino médio e não têm faculdade para cursar e, muitas vezes, não podem ir até Santarém. Quero anunciar que vamos criar, até 17 de novembro, a Universidade dos Povos Indígenas do Brasil. Vai ser uma universidade em Brasília, mas que vai ter campus em vários outros estados”, antecipou Lula.
COMUNIDADE — Entre as atividades realizadas na comunidade estão a extração do látex da floresta, preparação da manta para comercialização, fabricação de móveis rústicos feitos a partir de árvores caídas e movelaria comunitária. Moram na localidade 190 moradores, de 47 famílias, e a reserva inteira tem 1,5 mil famílias e cerca de 4 mil moradores — organizados em 25 comunidades e 3 aldeias. As famílias vivem dos valores obtidos com reservas na pousada, manejo florestal, turismo de base comunitária, produção de farinha, atividades rurais e com o sistema agroflorestal baseado no cultivo de plantas frutíferas destinadas ao consumo.
TRANSMISSÃO – Donildo Lopes dos Santos, ex-cacique de 63 anos, conhecido localmente como Sr. Dido, é condutor de visitantes. Comercializa produtos de biojoias e trabalha na produção de farinha e do látex. Ele iniciou as atividades por influência do pai, em uma seringueira no próprio local, aos sete anos de idade. Ele reforça a importância da tradição e transmissão geracional de conhecimentos e ensinou o ofício aos filhos e sete netos. “Se a gente não passar o que sabe adiante, se perde tudo”, disse.
RECONHECIMENTO – A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) destacou a importância de reconhecer o trabalho desenvolvido pelos povos das florestas que estão na linha de frente da conservação. “Nossa floresta nacional tem 530 mil hectares e 1.200 famílias. Essas famílias têm um estilo de vida que protege a floresta, buscam melhorias e já conseguiram muitas. Aqui é exemplo de bioeconomia, de sociobiodiversidade, de como manter a floresta em pé e gerar condições de vida e dignidade. Aqui tem extrativistas, artesãos e artesãs, têm seringueiros e seringueiras, e são muitas as atividades que vão se combinando ao longo do ano”, afirmou.
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BOLSA VERDE — Retomado em 2023, o Programa de apoio à conservação ambiental – Bolsa Verde transfere valores para 650 famílias (60%) que vivem na Flona. A política é voltada para famílias que vivem em Unidades de Conservação de Uso sustentável (Reservas Extrativistas, Florestas Nacionais e Reservas de Desenvolvimento Sustentável), em assentamentos ambientalmente diferenciados da Reforma Agrária (florestal, agroextrativista e de desenvolvimento sustentável) e em territórios ocupados por povos e comunidades tradicionais, como ribeirinhos, extrativistas, indígenas, quilombolas e outros.
CUIDADO REMUNERADO – Os beneficiários do Bolsa Verde se comprometem a cuidar da região onde vivem, a usar os recursos naturais de forma sustentável e a preservar a floresta, além de ajudar no trabalho de monitoramento e de proteção. Além dos pagamentos, têm acesso a ações de assistência técnica, extensão rural socioambiental, conservação ambiental e inclusão socioprodutiva.
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
